Nesta breve
abordagem, vamos analisar o esforço investigativo feito pelos primeiros
pensadores. Homens destemidos, sem vaidade e, até certo ponto, ingênuos, iniciaram
— no seu tempo — um incipiente filosofar. O que eles propõem é um novo jeito de
pensar. Defendem o uso da razão e da racionalidade para esse fim.
É assim que
começa, por volta do século VII a.C., a história da filosofia. Com esse
audacioso movimento da razão, os pré-socráticos substituem a dogmática do mito
por uma mentalidade puramente intelectual. Do ponto de vista histórico, ela vinca,
de modo definitivo, a história da humanidade ao mundo grego. Eles foram geniais
e desconcertantes. Vejamos:
Em primeiro lugar, e muito
simplesmente, os pré-socráticos inventaram a própria ideia de ciência e
filosofia. Descobriram aquela maneira especial de olhar para o mundo, que é a
maneira científica ou racional. Viam o mundo como algo ordenado e inteligível,
cuja história obedecia a um desenvolvimento explicável, sendo suas diferentes
partes organizadas em algum sistema compreensível. O mundo não era uma reunião
aleatória de partes, tampouco sua história uma série arbitrária de eventos.
Os
pré-socráticos, no seu primeiro ato contemplativo, identificam na natureza pressupostos
indubitáveis, tais como: a ordem, a organização e o inteligível. É a partir
dela, a natureza, que tudo começa. É recomendável lembrar que eles não possuíam
um acervo bibliográfico para pesquisa ou consulta, daí a genialidade. O que tinham
diante de si era apenas a natureza e os seus fenômenos. É por aí que
desenvolvem suas primeiras reflexões, com o intuito de entender os fenômenos presentes
na natureza.
O termo physis, que significa natureza,
empregado por esses filósofos, deriva de um verbo cujo significado é “crescer”.
Com isso, eles distinguem claramente o que provém da natureza e o que não provém
dela. É interessantíssimo como eles reconhecem essa proeminente distinção,
mesmo sendo considerados ingênuos por alguns historiadores da filosofia.
Os
pré-socráticos investigavam a natureza das coisas ou aquilo que, de uma maneira
ou de outra, participava da natureza das coisas — não de forma acidental, mas de
modo essencial. Seguindo tal perspectiva, desejavam encontrar ‘o princípio’ que
subjaz em todas as coisas. É com esse modo de olhar para o mundo que aparece a
mente filosófica. Ela começa quando o homem rompe os limites do mundo mítico,
circunscrito na natureza próxima, instaurando, assim, a atitude que indaga e
pergunta.
Os
pré-socráticos foram os primeiros a perceber que a natureza tinha causa em si
mesma. Foram eles que começaram uma progressiva caminhada rumo ao surgimento das
ciências. Superado o sono dogmático, imperativo do mito, a emancipação é
inevitável; o saber, uma consequência. Já vivemos um outro tempo, a era da
razão.
BARNES, J.
Filósofos Pré-Socráticos. Tradução Julio Fischer. São Paulo: Martins Fontes,
2003.
João Alberto Acunha Tissot
Professor de Filosofia