segunda-feira, 9 de junho de 2014

A difícil arte de educar

Já se passou muito tempo desde o aparecimento do primeiro homem e ainda se trata do tema educação exaustivamente. Inúmeras teorias foram pensadas e até articuladas – algumas valiosas, outras nem tanto – e, mesmo assim, continuamos compartilhando espaços com pessoas que assumem atitudes que nos fazem refletir se o homem desenvolveu, em si e no outro, um processo educativo satisfatório. Mesmo passados mais de 20 séculos, o que se vê retrata, no mínimo, uma face confusa desse processo civilizatório.

Isso tudo realça a fraca assimilação do processo educativo acumulado, mesmo considerando o esforço de pais, professores e educadores estudiosos do assunto. Mesmo assim, não se conseguiu infundir nele, homem deste século, polidez suficiente para que nas comunidades humanas se efetivasse um convívio humano.
As repetições de erros históricos geraram o estado confuso em nos encontramos. No entanto, continuamos elaborando teorias na tentativa de obter um melhor resultado. Essa determinação é elogiável e comprova a esperança que o homem tem em si e no outro.

Não sabemos por que tudo se repete. Ignoramos como se dá, no íntimo da natureza humana, a assimilação do conteúdo ensinado. Não sabemos o que a torna afirmativa e nem o que a torna negativa. Nessa dinâmica, há os que aprendem, e os que não aprendem. Precisamos entender pedagogicamente como isso se processa.

Caso pudéssemos dispor de um instrumento para medir o grau de educação em nós, indistintamente, o resultado seria surpreendente. Tal dispositivo não existe, mesmo porque, homem nenhum se deixará enquadrar numa métrica específica. A natureza humana é complexa, agregando em si virtudes e defeitos, hábitos e costumes, emoções e sentimentos, tudo isso afeta suas ações e reações, produzindo seu resultado.
Educar exige do educador a identificação dos desdobramentos implícitos por essa complexidade. Nos falta método e competência para cuidar de nós mesmos.

Qual a solução? Jean Piaget, autoridade em educação, declara numa célebre frase: “A principal meta da educação é criar homens que sejam capazes de fazer coisas novas, não simplesmente repetir o que outras gerações já fizeram. Homens que sejam criadores, inventores, descobridores. A segunda meta da educação é formar mentes que estejam em condições de criticar, verificar e não aceitar tudo que a elas se propõe”.

Como se vê, educar não consiste apenas em oferecer um currículo tecnicamente bem elaborado, mas principalmente, permitir a ele, educando, transpor os círculos dos vícios e costumes duvidosos que o aprisionam historicamente.

João Alberto Acunha Tissot, professor de filosofia

domingo, 16 de fevereiro de 2014

O passo de volta, um diálogo franco com a filosofia

A intenção deste espaço é oferecer, aos que tiveram seu interesse despertado pela filosofia, uma perspectiva inovadora que lhes permita abordar aquilo que é próprio da filosofia, mantendo-se no âmbito da filosofia e não fora dela. A filosofia, no momento atual, carece de uma oportunidade para que venha a ser tratada com respeito e como conhecimento humano de primeira grandeza, mantendo-a distante do ranço e do hermetismo acadêmico que até aqui a distanciou cada vez mais do homem contemporâneo, causando nele mais ojeriza do que simpatia. 

A filosofia pode, sem dúvida nenhuma, melhorar as relações humanas, ajudar a entender o que é a política, a desvendar a dinâmica do processo educacional, a aprimorar o comportamento humano na comunidade, a ensinar o significado do mito, rever o uso adequado da linguagem etc. Mas para isso acontecer, ela precisa criteriosamente ser revista, no desenvolvimento do seu processo histórico, revisitando aspectos que ficaram esquecidos e, principalmente, identificando aquilo que ela quer investigar, propondo novas perguntas e que são do seu interesse.

Hoje, a escassa lucidez, a rara noção e o pouco conhecimento, quando exaustivamente repetimos a palavra filosofia, surpreendem e espantam. Ainda não sabemos o que é filosofia, mas mesmo assim, insistimos e nos autodenominamos filosóficos, porque se ouve por aí que há filosofia de trabalho, filosofia de vida, filosofia do oriente e do ocidente, filosofia política, da educação, do direito etc. Mas me surpreende o embaraço das pessoas quando lhes perguntamos objetivamente: “o que é filosofia?”. 

Considero esse embaraço compreensível, porque embora repitam insistentemente – e cada uma tenha a “sua filosofia” –, falta a elas compreensão e entendimento a respeito desse conhecimento humano tão relevante. A precipitação conceitual, a compreensão e o entendimento superficial restringem e limitam o pensar filosófico, jogando-nos para fora do âmbito da filosofia. 

A filosofia ao longo de sua história já percorreu diversos caminhos e, mesmo assim, continua a inquietar aqueles que convivem ou lidam com esse conhecimento humano, impondo a eles enorme dificuldade no momento de compreendê-la ou defini-la.  

Meu propósito por meio do blog é resgatar aquilo que a filosofia esqueceu com o passar do tempo, o pensar filosófico, o filosofar, que é a origem da filosofia. Torna-se imperioso retomar o caminho iniciado pelos gregos desde os primórdios, e, com isso, voltar ao autêntico filosofar, que é a razão de ser da filosofia. O filosofar precede à filosofia e, até mesmo, aos filósofos como veremos no decorrer do tempo. Heidegger – filósofo alemão –, em sua obra Carta ao Humanismo, brilhantemente destaca: “Na sua gloriosa era os Gregos pensaram sem títulos e nem mesmo de ‘Filosofia’ chamavam o pensar”.
Pensar é preciso. Filosofar é preciso. Só aí teremos filosofia. Mas quem quer pensar precisa aprender. Mais que isso, precisa aprender o sentido e o significado do exercício do filosofar e do seu resultado para a vida humana. Filosofar não é apenas adejar, mas fazer do pensamento um caminho que vá à raiz de cada fato ou coisa, e com isso, sentir nessa proximidade o enigmático que ainda não aprendeu a pensar. 

O pensar filosófico exige vivência e, nesse aspecto, todos nós temos pouca experiência, principalmente aqui no Brasil, onde não há nenhuma tradição e afeição pela filosofia. Ou seja, o Brasil não tem tradição filosófica, e disso devemos tratar aqui no blog futuramente. 

Filosofar exige empenho, zelo e esforço contínuo, pois no filosofar se quer assimilar e conhecer cada coisa no momento do seu espontâneo e estranho aparecimento. É aí que o pensar enfrenta o ignorado, se torna conhecimento e se faz linguagem. O ato de filosofar busca um saber que venha vincar o próprio existir, a filosofia não está apartada do existir. Esse saber deverá ser proveitoso e, quiçá, viável ao homem.
Platão, na obra Eutidemo, clarifica a respeito dessa unidade que há entre pensar e ser: “De nada serviria a capacidade de transformar as pedras em ouro a quem não soubesse valer-se do ouro; de nada serviria uma ciência que tornasse imortal a quem não soubesse servir-se da imortalidade. Requer-se, portanto, uma ciência na qual coincidam pensar e ser. Esta ciência é a filosofia”. A filosofia no entendimento desse grande filósofo tem essa dimensão.


Convido as pessoas interessadas em questões filosóficas a usufruir do blog e estabelecer um convívio filosofante promissor e constante. Conto com a ajuda de todos para expandir o conteúdo e divulgar para amigos este espaço para a filosofia. 

João Alberto Tissot, professor de filosofia