quarta-feira, 3 de fevereiro de 2016

Um pouco sobre filosofia moral


João Alberto Acunha Tissot
Licenciado em Filosofia


Muitas vezes, tomamos conhecimento de movimentos nacionais ou internacionais de luta contra a fome. Ficamos sabendo que, em outros países e no Brasil, milhares de pessoas morrem de inanição. Sentimos piedade e ficamos indignados. Movidos pela solidariedade, participamos de campanhas contra a fome. Esses sentimentos e ações desencadeadas por eles exprimem nosso senso moral, a maneira como avaliamos nossa situação e a de nossos semelhantes, segundo ideias como as de justiça e injustiça. (CHAUI, 2011, p. 261).

Não basta ficarmos comovidos ou indignados diante de tais circunstâncias, precisamos por à prova a nossa consciência moral, e com ela agir com autonomia e não sob a influência dos costumes que herdamos pela tradição da sociedade em que vivemos. A filosofia moral ou a ética nasce quando se passa a questionar o que são e o que valem os costumes. Sócrates é quem inaugura essa reflexão. É ele que passa a perguntar qual o sentido dos costumes transmitidos de geração em geração, pergunta também quais as disposições de caráter que levam alguém a respeitar ou a desrespeitar os valores herdados pela tradição.

Sócrates descobre a consciência do agente moral, ou seja, que para se tornar um sujeito ético, cada pessoa precisa saber como se faz, conhecer as causas e os fins de sua ação, o significado de suas intenções, de suas atitudes e a essência dos valores morais. Desse modo, percebe-se que só haverá comportamento ético numa sociedade, se nela houver a presença atuante do homem sem vícios, o homem ético.

“Para que haja conduta ética é preciso que exista o agente consciente, isto é, aquele que conhece a diferença entre bem e mal, certo e errado, permitido e proibido, virtude e vício. A consciência moral não só conhece tais diferenças, mas também se reconhece como capaz de julgar o valor dos atos e das condutas e de agir em conformidade com os valores morais. Consciência e responsabilidade são condições indispensáveis da vida ética”. (CHAUI, 2011, p. 266).

Mesmo passado tanto tempo, ainda podemos perceber o vigor e a originalidade do filosofar socrático. Ele permanece atual, embora pouco assimilado por nós. A filosofia afastou-se do seu ponto de origem, o pensar filosofante, decidiu percorrer outro caminho, preferiu tangenciá-lo, e isso é lamentável. Os pensadores originários foram alijados do processo filosofante.


CHAUI, MARILENA. Iniciação à Filosofia. São Paulo: Ática, 2011.