terça-feira, 3 de janeiro de 2017

A difícil arte de educar – Parte II

Diante das manifestações nas mídias sociais, meios de comunicação ou numa rápida conversa com alguém, é visível a desilusão das pessoas ao perceberem que o homem não se comporta educadamente, nem na hora que vai descartar o seu lixo doméstico, por exemplo. O que deveria ser um ato simples, tornou-se um ato de descuido com o espaço público, uma desobediência às regras de conduta. De fato, não sabemos o que fazer para mudar tal situação, não vislumbramos uma perspectiva de melhora a curto prazo. Por isso, desejo retomar a reflexão do meu artigo anterior, publicado aqui no blog em junho de 2014.

O tema educação é fascinante, move e estimula o meu trabalho com filosofia. Quando tratei dele pela primeira vez, apontei o seguinte: “ignoramos como se dá, no íntimo da natureza humana, a assimilação do conteúdo ensinado. Não sabemos o que a torna afirmativa e nem o que a torna negativa. Nessa dinâmica, há os que aprendem, e os que não aprendem. Precisamos entender pedagogicamente como isso se processa”.

Hoje, passado algum tempo da primeira abordagem, persistindo na pesquisa do tema, me aproximei ainda mais da filosofia de Martin Heidegger, filósofo alemão do século passado. Com ele despertei do sono dogmático da metafísica tradicional, me aproximei do conceito de humanismo na concepção desse filósofo.

Na sua obra Carta sobre o Humanismo, publicada pela primeira vez em 1947, ele diz o seguinte: “Em Roma encontramos o primeiro humanismo. Ele permanece, por isso, na sua essência, um fenômeno especificamente romano, que emana do encontro da romanidade com a cultura do helenismo”. Ou seja, os romanos absorveram dos gregos a riqueza desse conceito.

Por outro lado, seguindo o pensamento de Piaget, assimilei dele a sua máxima sobre educação, que diz: “A principal meta da educação é criar homens que sejam capazes de fazer coisas novas, não simplesmente repetir o que outras gerações já fizeram”. Assim, então, estimulado por suas palavras, prossegui, investindo na intensificação da pesquisa e na leitura da obra de Heidegger.

Para ampliar, ainda mais meu conhecimento, retomei a leitura da obra Paidéia de Werner Jaeger. Nela pude entender o valor e o significado da educação para a formação da cultura grega. Por isso, considero valiosa esta sua sentença: “Todo povo que atinge um certo grau de desenvolvimento sente-se naturalmente inclinado à prática da educação. Ela é o princípio por meio do qual a comunidade humana conserva e transmite a sua peculiaridade física e espiritual”. Logo a educação é algo que está implicitamente gravado no seio de uma comunidade, de uma civilização, e sem ela, não há nem uma coisa, nem outra.

Portanto, o nosso desencanto com aquele que não atende as regras de boa conduta, não separa o lixo reciclável do lixo orgânico, insiste em descartá-lo em local inapropriado, está plenamente justificado. Ele não faz parte da comunidade, não é civilizado. Segundo Homero, “é alguém sem família, sem lei, sem lar”.  Não corresponde ao conceito de animal político de Aristóteles

João Alberto Acunha Tissot
Professor de Filosofia

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