terça-feira, 17 de janeiro de 2017

Reflexão sobre o movimento

A filosofia é laica desde seus primórdios, apesar do surgimento da patrística e da escolástica, momento em que a fé quer superar a razão. Esse período se prolonga por quase quinze séculos e marca a história do desenvolvimento intelectual do homem. A filosofia, por sua vez, resiste, fugindo do jugo do sagrado, da crença e do fenômeno da revelação. Firme no seu propósito, ela soube muito bem salvaguardar o seu maior tesouro, a razão, e com ela, faz um movimento especulativo grandioso em busca do saber legítimo. 

Nietzsche, filósofo alemão do século XIX, escreve aos dezessete anos, um texto genial do qual extraímos o seguinte fragmento: “Fomos influenciados sem ter em nós a força para uma ação contrária, sem mesmo perceber que somos influenciados. É uma sensação dolorosa, haver cedido a própria independência numa aceitação inconsciente das impressões exteriores, haver sufocado faculdades da alma pelo poder do hábito, e a contragosto haver enterrado os germes do extravio no fundo da alma”. Para ele, o dano no destino historial do homem é resultado do interdito gerado pelo período da filosofia na Idade Média.

A Filosofia é saber sobre todas as coisas, é um conhecimento dotado de movimento próprio e em perene construção, por isso, tem visão crítica e precisa rever o seu desempenho na sua trajetória histórica, visando encontrar seus erros e equívocos e, a partir daí, corrigi-los. Ela existe e subsiste no devir, o movimento que permite que tudo venha a ser. Sem ele não há realidade. Heráclito, pensador pré-socrático, percebeu muito cedo que na natureza tudo é movimento.

Para Heráclito, há o movimento, ele é imanente, é algo em si mesmo. Mas entre as coisas da natureza, há também o homem, e nele a autonomia, para que ela serve, senão tornar a subjetividade em legítima e autêntica objetividade. “Na profunda intuição de Heráclito, o universal, o logos, é o comum na essência do espírito, como a lei é comum na cidade”. (Paidéia, p.13).

Para finalizar, volto a citar Nietzsche: “O fato de Deus ter se feito homem indica apenas que o homem não deve buscar no infinito sua felicidade, mas fundar na Terra o seu céu; a ilusão de um mundo sobreterrestre levou os espíritos humanos a uma atitude equivocada perante o mundo terrestre: foi fruto de uma infância dos povos...”. 

Portanto, se há autonomia, há também a vontade forte, e com elas, surgem os mundos e suas realidades, tais como: a cultura, a educação, a ciência, a arte, a política, a literatura, e outras tantas, e sem elas, tudo seria apenas um espaço geofísico, vasto, belo, porém, enfadonho. Por isso, Nietzsche pergunta, seríamos deuses independentes?

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