quarta-feira, 26 de setembro de 2018

Introdução ao pensar, a origem do filosofar

Sabe-se que, ao longo do tempo, a filosofia atraiu sobre si indisfarçável antipatia. Mesmo velada, ela existe. As razões não são facilmente identificáveis. Quando falamos de filosofia para as pessoas, o que era tácito, torna-se explícito. Logo, surgem as rejeições. Tal comportamento é compreensível, mas como é uma atitude impensada e não refletida, precisa ser refutada. Os filósofos nos ensinaram a pensar além do senso comum, preparando o caminho. Aos professores de filosofia, preceptores desse conhecimento, cabe a iniciativa de fazer as demais pessoas seguirem esse caminho. No entanto, sabe-se de antemão que tal tarefa não é simples, embora necessária.

As pessoas se habituaram a pensar com base no senso comum, mas ele não nos conduziu por um bom caminho. A filosofia propõe o bom senso, o pensar sistemático. A seguir, propõe a criticidade, capacidade para sopesar, tornar-se o avaliador justo, aprender a pôr na balança. Para tanto, precisamos reaprender a pensar. A filosofia não é um modo de pensar que tangencia cada questão, ela se demora na análise de cada uma delas, procurando extrair o que está em jogo. Deseja compreender cada momento, ou seja, filosofar. Sem isso, como diz Hegel, filosofar seria o mesmo que nadar sem entrar na água.

Muitos julgam a filosofia como algo sem utilidade e logo perguntam para que serve a filosofia. De fato, ela não é utilitarista. Não é como o martelo, que é um instrumento da técnica, utilizado para bater pregos basta vê-lo e já se sabe para que serve. A filosofia tem fim em si mesma, isso ainda precisamos aprender. Eis aí o primeiro passo.

O que a filosofia estimou para si desde os primórdios foi um saber próprio, originário. Por isso, indagou: qual o princípio que justifica o surgimento de todas as coisas? Com essa pergunta, ela gerou espanto e perplexidade, impondo um impasse para si mesma, pois não tinha a resposta. “Ora, quem formula impasses e se admira julga ser ignorante; consequentemente, se filosofaram justamente para fugir da ignorância, é claro que buscaram conhecer pelo saber e não em vista de alguma utilidade”. (ARISTÓTELES [Metafísica, p.12],2008).

A filosofia, a partir de si mesma, empreende, numa iniciativa teórica, o pensar autêntico. Com esse movimento do pensamento, produz conceitos e um vocabulário apropriado. Assim, ingressa no conhecimento e na linguagem. Neste esforço, a razão prossegue e avança visando desvendar os meandros da realidade, reconhece a presença do inteligível e o mundo natural. Ela quer, assim, iluminar a realidade, trazer à luz do saber o que era abstrato e enigmático. Produz, assim, inúmeras falas, cria o discurso, a dialética e a arte da argumentação.

A filosofia precisa manter-se no pensar autêntico, não pode correr o risco de fazer abordagens impróprias ou inadequadas – seus temas se interpenetram, facilmente caem no indeterminado. Portanto, ela deve ser diligente na elaboração dos seus conceitos e definições. Precisa manter-se no caminho, nunca fora dele.

João Alberto Acunha Tissot
Professor de Filosofia

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